domingo, 23 de outubro de 2011

Alto da Cova da Moura


Às 07h40m da manhã do dia 09 de Junho partimos de comboio do Entroncamento para a estação do Oriente, levando na bagagem muita disposição e expectativas elevadas, rumo à Cova da Moura.
Ansiávamos ver “in loco” o ambiente transtornante deste bairro e "carregávamos" dentro de nós o preconceito negativo de violência que já nos fora veiculado tantas vezes pela comunicação social e empolado pela imaginação pessimista do desconhecido. Porém, já em Lisboa, fomos confrontados novamente por pensamentos menos dignos de se ter, neste caso, preconceituosos para com este bairro, uma vez que nem os taxistas nos queriam levar ao bairro em questão, quanto mais não fosse, deixavam-nos perto, facto que se consumou.
Após certo tempo de espera à entrada do bairro e um certo trago a mistério que nos envolvia a todos, lá apareceu uma colaboradora da associação Moinho da Juventude que nos acompanhou pelas ruas até chegarmos à associação.
Conhecemos a Associação de Moradores do Bairro Alto da Cova da Moura, principalmente o núcleo do Moinho da Juventude com as suas amplas e variadas vertentes sociais: Biblioteca, Centro de Documentação, Centro de Formação, com cursos adequados às necessidades pontuais, mediadores culturais, puericultura (acompanhando mães adolescentes que foram orientadas antes do nascimentos dos seus bebés num curso agora extinto), curso básico de informática, curso de prevenção de HIV-SIDA, ATL, etc. Verificamos “in loco” a existência de três creches até aos três anos. Uma pertencente à Santa Casa da Misericórdia, outra à Paróquia e a outra é um pólo do Moinho da Juventude. Todos nos seduzimos com o aspecto cuidado e organizado destes espaços, com as belas pinturas murais realizadas por jovens talentosos e o civismo que por ali reinava. Afinal, a imaginação pessimista que tínhamos, caía por terra. Tivemos um guia empenhado, o Edir, que nos explicou variadíssimas coisas respeitantes ao Bairro Alto da Cova da Moura, por exemplo, este está a ser requalificado, depois de assinado o Protocolo em Novembro que assegura a permanência do Bairro como está e dos seus moradores. Informou-nos que as casas foram construídas pelos próprios há muitos anos e melhoradas conforme vão tendo possibilidades. O Moinho do Alto, em ruínas, agora vai ser preservado enquanto monumento, mas reconstruído e transformado noutra biblioteca para servir a população. Actualmente, existem cerca de 9.000 moradores, permanecem aí vinte e dois restaurantes e vinte e nove salões de cabeleireiro, especializados em tratamento de cabelo e penteados afro. Tivemos conhecimento do Projecto Sabura, palavra crioula, que, não tendo uma tradução específica em português, simboliza tudo o que é positivo. A este projecto estão vinculados diversos restaurantes, cada um simbolizando uma ilha de Cabo Verde. Infelizmente, não tivemos nesta visita, a oportunidade de almoçar e provar as famosas iguarias típicas de Cabo Verde, quem sabe numa próxima visita. Como a vida se encontra difícil, no bairro habitam beneficiários de outras origens, de famílias residentes no bairro. Edir informou-nos que 50% da População do Bairro é cabo-verdiana; 30% são portugueses, brancos, retornados das ex-colónias; 10% de origem diversa, Brasil, Angola, Guiné, países de Leste, etc.
Concluindo, sentimo-nos bem na visita ao Bairro, fomos bem recebidos e tratados, e viemos embora com a certeza de sermos bem-vindos e podermos voltar, sem receio, sempre que o desejarmos.